segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pagar para tocar nas rádios do país é uma prática comum

A prática do jabá revela que, nem sempre, ser o mais tocado nas rádios é fruto exclusivo do mérito musical do artista


O chamado jabá é uma prática adotada “às escuras” por diversas emissoras de rádio do país. Funciona basicamente assim: a emissora pede uma quantidade em dinheiro e em troca veicula a música do artista. Normalmente ela pega parte da verba paga pelo artista e transforma em promoção para o ouvinte, a fim de lançar a música e, consequentemente, encher os bolsos da empresa.

Apesar de sua relevância, o assunto é tão delicado que as pessoas não se pronunciam em relação a ele. A reportagem procurou várias fontes importantes para falar melhor sobre o assunto, mas grande parte delas preferiu não dar entrevista. Toda essa especulação em relação a prática, bem como o fato de as discussões sobre o assunto não conseguirem tomar grandes proporções, permite se chegar a um questionamento bastante representativo: o jabá existe soterrado dentro das emissoras de rádio do país?

Boa parte dos músicos dizem que a resposta é positiva e que a prática existe inclusive dentro de rádios da cidade. “É uma prática comum em rádios comerciais de todo o país, porque não em Londrina? O difícil é achar o contrário, isto é, rádios que tenham sua programação desvinculada do jabá”, afirma o jornalista cultural e radialista Daniel Thomas.

Comprovando a afirmação, o integrante de uma conhecida banda londrinense que prefere não se identificar, conta que eles já tiveram a oportunidade de ver uma de suas músicas lançadas em uma rádio da cidade, porém, o preço para que isso acontecesse pareceu salgado. “Vieram com a proposta de tocar nossa música, mas, em troca disso, a banda teria que comprar souveniers (brindes como chaveiros, Ipod’s, etc.) que seriam sorteados para os ouvintes que ligassem pedindo o nosso som”, revela.

Alguns reconhecem que a prática é uma forma de transação comercial, isto é, acontecer pela necessidade de as rádios se verem obrigadas a segmentar o que toca em meio a tanto material disponível. Além disso, há quem reconheça que a prática seja um bom investimento para algumas bandas.

É o caso do ex-integrante da banda New Ones e que atualmente possui um projeto solo, Igor Diniz. “Apesar de não concordar com a política do jabá, acho que para músicos que querem fazer parte do mainstream, é um investimento. Nesse meio, se não tiver alguém injetando grana, não vai para frente”, diz.

Já para Thomas, o jabá é uma prática deplorável que padroniza o estilo de música que entra nas rádios e que deixa a maior parte dos músicos do país empoeirados na prateleira. “Com o jabá você só divulga o trabalho de quem tem dinheiro para pagar por isso e acaba boicotando os legítimos artistas da cidade, da rua, do país. É uma forma de interferir negativamente no processo cultural de um determinado lugar”, afirma.

Uma alternativa encontrada pelos músicos que não concordam com a prática, mas querem se consolidar no mercado é a utilização de meios alternativos, como a própria internet. “A vantagem de caminhar com as próprias pernas é que depois de algum tempo construindo público, dificilmente você os perderá. Ao contrário do que se vê nos músicos que surgem nas rádios com muito dinheiro por trás: bombam por um tempo e depois somem”, comenta Diniz.


Rádios tentam moldar a identidade e o som das bandas


O caso da banda pé vermelho Mescalha é um pouco curioso. O grupo venceu em 2008 o festival de música Londrina Rock Festival que, entre as premiações, dava o direito de a banda ter uma de suas músicas veiculada pela rádio Folha FM. Porém, a oportunidade de a banda lançar sua música na rádio nunca se concretizou.

Embora o contrato não mencionasse nada a respeito, o responsável em definir o que toca na rádio acabou propondo que a banda mudasse sua música para que ela se adaptasse ao sistema da rádio e, assim, fosse veiculada pela empresa. A banda não aceitou a proposta e acabou não usufruindo da premiação do festival.

“O responsável tentou nos convencer de diversas formas, mas não aceitamos porque isso mudaria a proposta do nosso som. Não acho legal você gravar um hit que não tenha a ver com a identidade da banda só para tocar no rádio. Para muitos, esse talvez seja um caminho fácil de se lançar, mas não é o nosso”, afirma Henrique Medina, guitarrista da banda.

Para Thomas, o fato é comum e responsável por criar a cultura do alienamento que envolve todos os veículos de comunicação. “A partir de quando você pede para o artista se adequar a tendência da indústria se quiser tocar na tua rádio, você está abafando a cultura original e verdadeira, por que está tentando mudá-la para algo que sabe ser facilmente engolido pela massa. É a cultura do alienamento”.

Apesar de não ter ganhado o prêmio, a banda não se importou. Medina diz que existe espaço para bandas divulgarem o seu trabalho. “Eu acredito que você tem que encontrar os canais certos para sua música crescer e ser reconhecida no meio musical que você pretende estar. A internet ajuda a gente a mostrar o nosso som do jeito que ele é” diz.

4 comentários:

Biano Gonzaga disse...

Ou seja, ninguém conquista o sucesso nesse país, todos compram...

Unknown disse...

Infelizmente só quem tem muita grana passa por cima dos outros

Kaboclinho disse...

Demorei pra achar esse artigo,mas a verdade é que depois que adquirem fama os artistas é que recebem pela execuçao radiofonica de suas musicas,ou seja,os papeis se invertem.Acho que as radios tem mais é que cobrar mesmo.

Unknown disse...

Bela resposta! Aliás, era exatamente essa minha dúvida.